(x2) Eu vim plantar meu castelo Naquela serra de lá Onde daqui a cem anos Vai ser uma beira-mar
Vi a cidade passando Rugindo, através de mim Cada vida era uma batida Dum imenso tamborim Eu era o lugar, ela era a viagem Cada um era real, cada outro era miragem
Eu era transparente e era gigante Eu era a cruza entre o sempre e o instante Letras misturadas com metal E a cidade crescia como um animal Em estruturas postiças Sobre areias movediças Sobre ossadas e carniças Sobre o pântano que cobre o sambaqui Sobre o país ancestral Sobre a folha do jornal
Sobre a cama de casal onde eu nasci
Eu vim plantar meu castelo Naquela serra de lá Onde daqui a cem anos Vai ser uma beira-mar
A cidade Passou me lavrando todo A cidade Chegou me passou no rodo Passou como um caminhão Passa através de um segundo Quando desce a ladeira na banguela Veio com luzes e sons Com sonhos maus, sonhos bons Falava como um camões Gemia feito pantera
Ela era Bela, fera
Desta cidade um dia só restará O vento que levou meu verso embora Mas onde ele estiver, ela estará Um será o mundo de dentro Será o outro o mundo de fora
Vi a cidade fervendo Na emulsão da retina Crepitar de vida ardendo Mariposa e lamparina A cidade ensurdecia Rugia como um incêndio Era veneno e vacina
Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá Onde daqui a cem anos Vai ser uma beira-mar
Eu pairava no ar, e olhava a cidade Passando veloz lá embaixo de mim Eram dez milhões de mentes Dez milhões de inconscientes Se misturam, viram entes Os quais conduzem as gentes Como se fossem correntes Dum rio que não tem fim
Esse ruído São os séculos pingando E as cidades crescendo e se cruzando Como círculos na água da lagoa E eu vi nuvens de poeira
E vi uma tribo inteira Fugindo em toda carreira Pisando em roça e fogueira Ganhando uma ribanceira E a cidade vinha vindo A cidade vinha andando A cidade intumescendo Crescendo, se aproximando
(x4) Eu vim plantar meu castelo Naquela serra de lá Onde daqui a cem anos Vai ser uma beira-mar